segunda-feira, 17 de setembro de 2012

este texto é longo, mas estou muito melhor agora

Foram algumas as vezes que me questionaram como fui capaz de prescindir da vida profissional e voltar para casa, outras disseram-me que eram incapazes de fazer essa opção, que não lhes faz confusão os filhos ficarem até tarde na escola ou que não têm vida para sopeiras ou que pura e simplesmente seria impossível essa opção. E eu ouvi e pensei que cada um faz as opções que entende na sua vida, cada um de nós tem o seu contexto familiar e pessoal. Em todos os casos que senti esta crítica sempre considerei que estando no lugar do outro eu também não o faria, tivesse eu uma profissão compensatória a nível remuneratório ou de crescimento profissional, tivesse eu que trabalhar para alimentar os meus filhos certamente não o faria, também sei da vida...

Foram algumas vezes que me disseram que não ia ser capaz, que não me ia adaptar, que não tenho feitio para estar em casa. Também contrariei, porque acho que faz sentido assim, a nossa vida é muito mais tranquila, o V traz o dinheiro com que se pagam as contas e eu oriento tudo por aqui e dou muito mais atenção aos miúdos. Também não tenho avós nem tios por perto que me auxiliem nesta tarefa. Não tinha onde os deixar nas férias a não ser na escola, não tinha com quem os deixar quando adoeciam, não tinha quem os fosse buscar um único dia se eu precisasse de ficar a trabalhar até mais tarde. Foi a mim que me disseram "oh mãe vens sempre tão tarde...". Não me compensava estar a trabalhar fora, tinha que ter empregada (sim, tinha que ter ou ainda seria mais frustante passar o final de semana a limpar), pagar prolongamentos na escola, tinham que comer na escola (agora levam comida feita por mim. é mais barato). Tudo somado era muito pouco o que trazia de rendimento extra para casa. Foi possível tomar esta opção e tomei. Mas não me adapto. Acertaram. Faço tudo para o conseguir, mas nunca estou bem...

Podia candidatar-me a um trabalho qualquer, a minha área de formação não me diz muito. Foi uma má escolha minha. Mas não me arrependo de a ter feito, aprendi muitas coisas. Em tempos, e ainda bafejada pelo desemprego e não pela "dondoquice" de poder estar em casa por ser "rica", pensei aproveitar e voltar aos estudos, mas não me via a aprofundar conhecimentos na área da engenharia civil ou topográfica ou geográfica. De que me valeria aprender uma coisa que não tem muito a ver comigo? Perda de tempo e dinheiro. Gosto das lojas de desporto, das lojas de bricolagem, mas voltaria a uma coisa que já experimentei e já devo ser velha para isso...

Em tempos também me disseram que me faltava um hobby, alguma coisa com a qual me desse gosto gastar o tempo. Mas nessa altura eu não tinha tempo. Agora tenho! Tenho os dias ocupados a cuidar da nossa vida e rotina familiar, mas a verdade é que posso geri-los, estabelecer prioridades e dedicar-me a esse hobby. E assim, arrastei a máquina de costura (a Oliva da minha avó) da arrecadação até ao meio da cave e descobri um mundo que desde pequena acho piada, mas que nunca tinha tido oportunidade de explorar. Deixei de perder tanto tempo "agarrada" à internet em busca sei lá do quê e a aborrecer-me com conteúdos vazios - a internet é um vício desgraçado, arranjem um hobby! Arrumei um espaço para mim, comprei tecidos que desgostei, comecei a perceber de algodão e de sarja, descobri lojas com tecidos muito mais bonitos do que alguns que já comprei e entretanto já comprei uma máquina moderna. E isto é tudo uma agradável novidade.  A minha avó costurava, mas não era costureira, não fazia disso profissão, não a via cortar e coser diáriamente. É um gosto meu.

Não tenho pretensões a fazer um negócio já amanhã, sem conteúdo, sem conhecimento. Mas é inevitável pensar que pode ser uma nova oportunidade profissional para mim, com uma diferença: isto eu gosto de fazer. E mesmo que me sinta incomodada com alguns comentários de quem não entende a importância das coisas (para mim), existe quem me dá força, quem me dá ideias, que me apoia nisto. E acima de tudo existo eu, com montes de ideias na cabeça, vontade de arranjar roupa dos miúdos, transformar peças minhas descartadas há muito tempo, fazer coisas cá para casa, oferecer presentes feitos por mim e só isso já me motiva a continuar. E vai aparecendo sempre alguém amigo que me pede qualquer coisa, paga por isso, e eu vou comprando mais tecidos, mais linhas, e é assim que eu vou aprendendo. E sei lá onde isto pode ir parar!

Faço-me lembrar as pessoas que trabalham uma vida inteira e quando se reformam e ficam com mais tempo descobrem uma vocação. Eu tenho a sorte de isso me ter acontecido bem mais cedo. E levo bem melhor os dias assim, dedicando uma boa parte deles a fazer o que gosto. Trabalho que dê dinheiro para pagar as contas todos precisamos, até eu... Isto tudo (a importância que isto tem para mim, o meu blog, a minha página de facebook, a alegria por não me sentir uma mona inútil) tem gerado algumas reações (a indiferença também conta) com as quais eu lido mal, daí o post anterior. Em conversas que tenho tido dizem-me para ser mais condescendente com os outros. Mais uma vez, contrario. Eu já percebi que existem pessoas menos boas, que se acham entendidas na vida, psicólogas dos outros, mas eu acredito em pessoas boas e humanas, condescendentes com os filhos, com a família, com os amigos, com quem amam (com as outras não consigo). E nem me apetece perder tempo com isso. Talvez me passe, a seu tempo, quando eu crescer mais um bocadinho...

Pronto, desabafei.

6 comentários:

  1. Querida cada um sabe de si, ainda ontem falava com uma amiga e lhe dizia que tbém não me importava de ficar em casa, disse-me logo que ela não era capaz, que tinha a sua independencia financeira... já eu não é com o que ganho que sou financeiramente independente por isso não me importo. Se me adaptava ou não já são outros quinhentos tbém gosto de estar ocupada.
    Mtas felicidades
    Bjos
    Maggie

    ResponderEliminar
  2. Toda a gente gosta de opinar sobre a vida alheia, já sabes ;) mas cada um sabe de si! Quando se trabalha um dia inteiro e isso leva a que as crianças fiquem na escola até à noite e depois ainda tem que se pagar prolongamentos para eles lá ficarem, e o ordenado vai todo praticamente para pagar a mensalidade da escola, os almoços na escola, os prolongamentos na escola...também eu questiono que vida é esta?
    Fazendo contas em casal, se calhar compensa mais o pai trabalhar e apostar na carreira profissional e a mãe apostar na realização da família e na gestão do orçamento familiar...indo buscar as crianças a tempo e horas à escola, dar-lhe lanche, ajudar nos tpc, dar-lhes atenção...
    Conhecemo-nos ;) a trabalhar na mesma empresa e as circunstâncias da vida levaram-nos a tomar outras opções de vida. Estou e sou muito mais feliz agora do que quando, eu e tu, trabalhamos juntas :)
    Um grande beijinho para ti

    ResponderEliminar
  3. Eu gostava de estar em casa.Tenho uma profissão que não me diz muito mas que preciso para pagar as contas.Tenho a esperança de um dia me poder dedicar ( tal como tu!!) ao que realmente gosto ( sim, não és só tu que gostas da costura e de "crafetar" :p ). Há muita gente mesquinha , invejosa e maldosa, não ligues! Sê feliz, que é o mais importante!

    bjs

    ResponderEliminar
  4. Obrigada por as vossas palavras :)

    ResponderEliminar
  5. Quando a minha filha nasceu optei por ficar em casa, primeiro porque o ordenado nem sempre era certo e segundo porque nem eu, nem o meu marido gostamos da ideia de termos a miúda em creches e infantários. Como tu, também não temos familiares por perto. Optar por esta decisão foi a melhor coisa do mundo. A pior coisa são as bocas das pessoas, o olharem-me de lado e de me considerarem uma parasita. Como tu, também me desleixei um bocado no aspecto fisíco (isto relativamente a um dos post mais novos) e como tu, disse basta. Estar em casa não significa que deixemos de nos arranjar e de nos vestir bem. Mas para muita gente isso é sinal de menina dondoca. Se não nos arranjamos somos umas desleixadas, se nos arranjamos somos umas dondocas. Após episódios tristes em que fui rebaixada e humilhada pela decisão que tomei cheguei ao ponto de não querer saber das opiniões dos outros. Se me acham dondoca, paciência. Só eu sei, e quem vive cá em casa também, o trabalho que tenho todos os dias em cuidar de uma miúda de dois anos e meio, em limpar uma casa, tratar das refeições, da roupa e tudo o mais. Pena é que quem trabalhe como empregada de limpeza ou como ama ou educadora nunca ouça: mas que raio fazes tu todos os dias? Tantas vezes ouço tal pergunta e de todas as vezes respiro fundo para não mandar essas pessoas dar uma volta ao bilhar grande. :)
    Beijinhos e força. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada Flor de Lima...
      Fiquei com pena que terminasses o teu blog, mas fico contente por saber que me continuas a visitar. É bom trocar opiniões com quem sabe do que falamos/escrevemos :)
      Beijinhos

      Eliminar